segunda-feira, 11 de maio de 2009

Inteligência de Fontes Abertas

O ciclo de Inteligência é descrito de diversas formas pela literatura especializada, já que, por se tratar de um método flexível, cada agência o desenvolve a seu critério. Algumas etapas que seriam identificáveis na maioria dos métodos empregados são: requisitos informacionais; planejamento; gerenciamento dos meios técnicos de coleta; coleta a partir de fontes singulares; processamento; análise das informações obtidas de fontes diversas; produção de relatórios, informes e estudos; disseminação dos produtos; consumo pelos usuários; e avaliação.

As fases que abrangem a coleta especializada segundo fontes e meios utilizados para a obtenção das informações englobam basicamente quatro técnicas, convencionalmente separadas em três de cunho sigiloso e uma de natureza ostensiva. Nos países centrais, cerca de 80 a 90% dos investimentos governamentais na área de Inteligência são absorvidos por este estágio do ciclo. Os trabalhos acadêmicos que versam sobre Inteligência definem as técnicas de coleta através de acrônimos derivados do uso norte-americano: HUMINT (Inteligência de fontes humanas), SIGINT (Inteligência de sinais), IMINT (Inteligência de imagens) e OSINT (Inteligência de fontes abertas).

OSINT é definida como a análise baseada na “obtenção legal de documentos oficiais sem restrição de segurança, da observação direta e não clandestina dos aspectos políticos, militares e econômicos da vida interna de outros países ou alvos, do monitoramento da mídia, da aquisição legal de livros e revistas especializadas de caráter técnico-científico, enfim, de um leque mais ou menos amplo de fontes disponíveis cujo acesso é permitido sem restrições especiais de segurança.” A OSINT pode compor um documento como subsídio à análise, tais quais a HUMINT, SIGINT e IMINT, ou mesmo basear inteiramente um produto de Inteligência.

A grande vantagem das fontes abertas é o alto grau de oportunidade e o baixo custo para obtê-las. A OSINT torna-se atraente principalmente em épocas de contingenciamento orçamentário e para aquelas nações que adotam o princípio da efetividade em seu arcabouço jurídico. Ampliam, portanto, as possibilidades da atividade de Inteligência.

Por outro lado, a inundação de dados gerada pela “democratização da informação” e pela popularização das tecnologias da comunicação aumentou a carga sobre decisores, bem como impôs os possíveis três maiores entraves ao uso de fontes abertas: a quantidade exagerada e a eventual qualidade duvidosa da informação, além da falta de confiança na fonte, que está sujeita a medidas ativas de contra-espionagem (desinformação). Aparentemente, uma solução possível para este problema seria a seleção acurada de profissionais com perfil para coleta e análise de fontes abertas, além da criação de uma doutrina especial para o exercício da função destes profissionais.

Para mais detalhes, veja o Manual da OTAN publicado no site: http://www.oss.net/dynamaster/file_archive/030201/254633082e785f8fe44f546bf5c9f1ed/NATO%20OSINT%20Reader%20FINAL%2011OCT02.pdf

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Perspectivas de pesquisa em Inteligência Organzacional

As organizações respondem a desafios internos e externos com graus variados de efetividade. Uma característica importante das que têm sucesso é que são capazes de identificar e responder adequadamente às mudanças em seus ambientes. Estas mudanças não só incluem as ações específicas de outras organizações, mas mudanças em tecnologia, em sua estrutura interna e em condições sociais e culturais que afetam a organização.


Nesse sentido, Inteligência Organizacional (IO) pode ser vista sob dois pontos de vistas mutuamente dependentes: como um processo (dinâmico); como um produto (estático). Como um produto, refere-se à totalidade de informação e conhecimento estruturados, sintetizados e direcionados para um objetivo, que são gerados quando a organização aumenta a sua capacidade de solução de problemas. Como um processo, a IO é interativa, agregadora e uma complexa coordenação das inteligências humana e de máquina dentro de uma organização. Implica que estas inteligências sejam orientadas em direção a processos de fluxo de trabalho.


O processo de IO compreende os seguintes componentes:

- memória organizacional - é a capacidade de armazenar eventos, situações de sucesso ou insucesso e lembrar quando isso for requerido. Capacita a organização a preservar, recuperar e utilizar suas experiências (informação sobre sucessos e falhas ocorridos no passado) e aprender com a sua própria história;

- cognição organizacional - consiste nas atividades de processamento, análise e síntese da informação em uma organização;

- raciocínio organizacional - refere-se à definição de estratégias para prevenção, dissimulação e tratamento de problemas organizacionais, além da solução dos mesmos. Abrange não só a solução de problemas, mas inclui também a capacidade de evitar, transpor e encapsular um problema;

- aprendizado organizacional - é a capacidade de uma organização utilizar o conhecimento armazenado na memória organizacional, no momento correto e aprender com as experiências anteriores. O aprendizado se refere ao comportamento em novas situações e a contribuição para novas formas de agir;

- comunicação organizacional - refere-se à troca de dados, informações e conhecimentos em uma organização, entre atores humanos e baseados em máquinas, além daquelas trocas que ocorrem entre a organização e seu ambiente;

- inteligência competitiva - é o processo sistemático e ético de coleta, tratamento, análise e disseminação da informação sobre o ambiente externo da organização, visando subsidiar o processo decisório, a consecução dos objetivos da organização e a criação de vantagens competitivas sustentáveis;

- contra-inteligência organizacional - refere-se à proteção do conhecimento e da informação organizacionais. É a atividade que objetiva neutralizar as ações de Inteligência ou de espionagem da concorrência.

Operações de Informação

Os Estados Unidos e seus aliados revelaram, em 1991, no Golfo Pérsico, uma forma totalmente nova de travar a guerra. Através da exploração do conhecimento, a força de coalizão devastou a formidável máquina militar do Iraque, surpreendeu o mundo, confundiu os críticos de defesa, surpreendeu a si mesmo e muito possivelmente "os padrões de desempenho das Forças Armadas norte-americanas em conflitos armados foram alterados".
Após o conflito, o Exército dos EUA publicou o manual de campanha FM 100-6 - Operações de Informações (Information Operations), doutrina relevante às atuais operações multidimensionais, bem como para as operações da futura Força XXI. A doutrina das Op Info descreve a importância das informações e como vencer a guerra da informação hoje e no futuro. O FM 100-6 identifica a informação como um fator essencial do poder de ação nos níveis estratégico, operacional e tático. Aborda como as tecnologias da era de informação podem multiplicar o talento e o potencial dos líderes, permitindo derrotar o oponente rapidamente em uma operação conjunta e combinada.

Entretanto, no âmbito empresarial, público e privado, poucos estudos foram realizados no sentido de apropriar conceitos doutrinários de Operações de Informação para emprego em Gestão Estratégica.
Alguns aspectos doutrinários importantes e que merecem aprofundamento:
- a doutrina estabelece uma estrutura que permite às forças amigas controlar as informações disponíveis e relevantes (essenciais); proteger sua habilidade de avaliar, processar, integrar, decidir e agir, com relação àquela informação; e atacar a habilidade de seu adversário em potencial de avaliar, processar, integrar, decidir e agir, também em relação à mesma informação;
- o conceito de Op Info integra três componentes fundamentais: informações e inteligência relevantes; sistemas de informações eficazes; e uma combinação de processo decisório e comunicação social/relações públicas, procurando obter o domínio da informação para o decisor;

- as Op Info podem tornar mais capazes e proteger os sistemas de informações; sincronizar as ações no ambiente externo; conectar sistemas hierárquicos e não hierárquicos; integrar sensores e decisores; e degradar, interromper ou explorar as ações adversárias, agindo sobre seus processos decisórios;

- ambiente de informação global: o FM 100-6 delineia e define o ambiente de informação global como "todos os indivíduos, organizações ou sistemas, em sua maioria fora do controle militar ou das Autoridades Governamentais, que coletam, processam e disseminam informação para públicos nacionais e internacionais";

- ambiente de Informação Global e Ambiente de Informação Organizacional: o ambiente de informação organizacional como um ambiente dentro do ambiente de informação global, consistindo de sistemas de informações e organizações — amigas e inimigas, militares e não militares — que apóiam, permitem ou influenciam significativamente uma ação específica. Adversários procurarão ganhar vantagem no ambiente de informação global, empregando os sistemas e organizações dos seus espaços de atuação. Além disso, a mídia, grupos de estudos, instituições acadêmicas, organizações não governamentais (ONGs), agências internacionais e individuais, com acesso à auto-estrada da informação, são todos atores expressivos no ambiente de informação global;

- domínio da informação é definido como "o grau de superioridade das informações que permite ao seu detentor empregar os seus sistemas de informações e seus meios para alcançar uma vantagem operacional num conflito, ou controlar uma situação envolvendo atores externos, negando, ao mesmo tempo, esses meios ao adversário;
- Guerra de Informação abrange um amplo conjunto de conceitos de guerra da era da informação. Esses novos conceitos emergentes da guerra estão diretamente ligados à perspectiva de que a evolução rápida do ciberespaço — a infra-estrutura de informação global — pode trazer tanto novas oportunidades como novas vulnerabilidades.

Portanto, aprofundar o entendimento e a viabilidade de aplicar os conceitos de Operações de Informação no âmbito empresarial traz uma nova perspectiva para a Atividade de Inteligência.